sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Conto de Natal: "Até ao dia de Natal"

Hoje partilho um conto de Natal que escrevi em 2019 e que se encontra publicado numa coletânea de contos de Natal. Desejo um Feliz Natal para todos e que o amor seja sempre presente na vossa vida! <3

Fotografia de Erica Marsland Huynh, Unsplash.

"Até ao dia de Natal



O imponente castelo, finalmente, ilumina-se! Descobre a véspera de Natal. O anoitecer agora é mágico. Da estrutura deste castelo, fazem parte as palavras, os pensamentos, os sonhos. Assim, a sua dimensão é tão variável quanto a dimensão dos nossos sonhos. Se forem imensos, o castelo será imenso, ocupando uma cidade, um país, um mundo, um universo. 

Alguém pergunta: "posso entrar?" E, chega a resposta: "sim, com atenção, no momento em que a lua despontar no céu. Mas, depois já não poderás sair!" E, acaba por entrar uma multidão, enquanto a noite vigia lá fora. 

Uma velha e estranha guardiã, de quem a multidão foge, nunca se afasta do átrio. É ela que edifica o castelo, esforçadamente, sobre uma nuvem arrastada pelo vento. É uma verdadeira algazarra! Todos falam, correm pelos corredores, entram e saem das salas, sobem e descem escadas, que parecem molduras empilhadas, cheias de imagens passadas, numa completa desordem. 

Entretanto, chegam dois espíritos de Natal, cuja serenidade revela que conhecem o espaço muito bem. É o tempo, perspicaz, com séculos de conhecimento, e a memória, que vai detendo o passar do tempo. Chegam decididos a revelar os segredos que vivem dentro destas paredes pensadas. Parte da multidão junta-se para os ouvir.

E, o tempo conta o primeiro segredo: "por cada porta que se fecha, uma abre-se e por cada porta que se abre, outra fecha-se!" Originalmente, todas as portas estavam abertas. Agora, existe uma confusão de portas abertas e fechadas. E, a memória conta: "por cada local iluminado, um escurece e, por cada um que escurece, outro ilumina-se." Apesar de não parecer, existe um equilíbrio dentro do castelo confuso.

E, alguém pergunta ao tempo e à memória: "há algum sentido nesta desordem?" É que os mais curiosos facilmente se perdem e os mais cautelosos tendem a não sair do mesmo lugar, pois o castelo é algo assustador, nem sequer os espelhos mostram exatamente o que se passa. Além disso, parece estar vivo, mais do que enfeitado, enfeitiçado. 

Então, o tempo e a memória respondem: "sim, há algo especial… um tesouro, é amor e está na torre mais alta." Mas, o castelo tem tantas coisas bonitas, que é difícil alcançar os planos mais elevados. Pois, há sempre algo interessante para fazer, para descobrir, para conhecer. É fácil dispersar. Quem irá até ao tesouro? 

Este é o segredo mais bem guardado, o tempo e a memória nunca o esquecem, porque ele permite-lhes, em algum momento, ser como a luz do sol. E, dizem: "este tesouro pode ser percebido sem se chegar a lugar algum, porque não é um objeto. Mas, quem o alcançar, já não precisará dele, pelo que poderá distribuí-lo pelos outros. Este é um tesouro especial, que transborda alegria, que transcende e que transforma a véspera no dia de Natal." E, neste dia é fácil querer permanecer."



Raquel Loio, Natal em palavras: Coletânea de contos de Natal, 2019

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