sábado, 15 de maio de 2021

Qual é a sua vocação profissional? What is your passion?

Esta pergunta, muitas vezes inquietante, pode acompanhar-nos desde cedo e continuamente nas nossas vidas. Pode ser atribuída mais ou menos importância ao que seria a nossa vocação. E, até se pode perguntar: será que existe tal coisa como uma vocação? Será que basta aprender algo e transformá-lo numa vocação? Estou a falar de vocação como uma propensão natural para alguma coisa, uma atividade, um trabalho, que se possa tornar uma profissão.


This question, often disturbing, can follow us from an early age and continuously in our lives. More or less importance can be attributed to what our passion would be. And, one might even ask: is there such a thing as a vocation? Is it enough to learn something and turn it into a passion? I'm talking about vocation as a natural propensity for something, an activity, a job, that can become a profession.

Por vezes, a vida dá cartas abstratas.
Sometimes life gives us abstract cards.
Imagem de justfantasybijuteria.blogspot.pt

Atualmente, é possível ter acesso a uma série de conhecimentos e atividades. Uma forma de descobrir a própria vocação pode ser, precisamente, aprender coisas novas. Eventualmente, alguma dessas atividades destacar-se-á e podemos dedicar-nos sem que isso compreenda um esforço, no sentido de conflito por ter de se trabalhar sem motivação.


Currently, it is possible to access to a range of knowledge and activities. One way of discovering one's vocation can be, precisely, to learn new things. Eventually, some of these activities will stand out and we can dedicate ourselves without an effort, in the sense of conflict for having to work without motivation.



É importante observar a nossa relação com as coisas e ver aquilo que faz sentido para nós. Será que poderemos e conseguiremos segui-lo? Nesta publicação, falo em termos de ocupação profissional. No entanto, podemos assumir a mesma atitude em todos os aspetos da vida.


It is important to look at our relationship with things and see what makes sense to us. Will we be able to follow it? In this post, I speak in terms of professional occupation. However, we can assume the same attitude in all aspects of life.



Vou falar um pouco da minha mudança de área profissional, uma mudança que aconteceu gradualmente desde 2011. Comecei por dedicar-me, embora poucas horas, a fazer bijuterias e pinturas, apenas com atenção a técnicas e não à criatividade. E, escrevia, era uma escrita introspetiva, sobre sentimentos, pensamentos. Iniciei, também, diários de sonhos. Nessa altura, não pensava que poderia ter uma profissão relacionada com artes e, ainda menos, com a escrita.


I will talk a little about my carreer change that happened gradually since 2011. I started making, although only a few hours, jewelry and paintings with attention to techniques and not to creativity. And, I wrote, it was an introspective writing, about feelings, thoughts. I also started dream diaries. At that time, I didn't think I could be an artist or a writer.



Apesar de ter sido daquelas pessoas que, ao querer desenhar ou escrever, ficava muito tempo a olhar para uma folha em branco, com um bloqueio de criatividade, a dado momento a minha criatividade começou a fluir de um modo que me surpreendeu. O autoconhecimento é importante, porque as coisas vão-se tornando claras para nós, percebe-se muito bem aquilo que faz sentido nas nossas vidas e o que não faz. Então, fiz uma mudança: dediquei-me a tempo inteiro às artes e à escrita.


Although I was one of those people who spent a long time looking at a blank paper, with a block of creativity, at one point my creativity started to flow in a way that surprised me. Self-knowledge is important, because things are becoming clear to us, we understand very well what makes sense in our lives and what does not. So, I made a change: I dedicated full time to the arts and writing.



Neste momento, trabalho na área da filosofia. Mas, este trabalho convergiu naturalmente com as artes e a escrita, o que também me surpreendeu. As várias áreas convergem como rios e parece que tudo flui na mesma direção. Penso que é assim porque estas atividades estão de acordo com o meu ser, fazem parte do que é mais honesto e verdadeiro em mim. Será o que se chama vocação?


Currently, I work in ​​philosophy. But, this work naturally converged with the arts and writing, which also surprised me. The various areas come together like rivers and they seem to flow in the same direction. I think this is because these activities are in accordance with my being, they are part of what is most honest and true about me. Is it what is called a vocation?



Na filosofia, de um modo geral, dedico-me à investigação sobre sonhos, estados meditativos, estados alterados de consciência… São estados que podem potenciar a nossa criatividade, no trabalho, na vida do dia-a-dia. Investigo o acesso a estes estados. O autoconhecimento está relacionado com isto, assim como um certo desapego, tudo tem que ver com uma espécie de fluir, de permitirmos o fluir. Não é algo fácil, porque estamos habituados ao oposto, a trabalhar a memória e a viver quase que exclusivamente através da memória, do pensamento, como se não houvesse lugar para mais nada. E, mesmo as “estratégias” que podem ser utilizadas para uma tranquilidade da mente tornam-se mais do mesmo, como as técnicas meditativas e quaisquer outras. A este respeito recomendo as leituras do Jiddu Krishnamurti, fico contente por ter chegado à mensagem desta pessoa, contribuiu imenso para compreender muitas coisas.


In philosophy, in general, I research dreams, meditative states, altered states of consciousness... These are states that can enhance our creativity, at work and in everyday life. I investigate the access to these states. Self-knowledge is related to this, as well as a certain detachment, everything has to do with a kind of flow, of allowing the flow. It is not easy, because we are used to the opposite, working with memory and living almost exclusively through memory, thinking, as if there was no place for anything else. And even the "strategies" that can be used for a peacefulness of the mind become more of the same, like meditative techniques and any others. In this regard, I recommend reading the work of Jiddu Krishnamurti, I am glad I with his message, which contributed a lot to understand many things.



Continuando, se a investigação, em termos académicos, se torna também muito focada nos métodos, decidi, a par disso, continuar a escrever criativamente. E, publiquei um livro em 2019. Se quiserem poderei fazer uma publicação sobre o livro. Eu diria que é uma escrita criativa existencialista. O livro é difícil de categorizar, mas, no meio académico, foi indicado como filosofia do espírito. Mas, não são seguidos métodos filosóficos, este livro é um devaneio, porque se associa muito ao sonhar, à busca da consciência pela verdade no meio do caos, é o retrato escrito de uma crise existencial. Enquadra-se no chamado fluxo de consciência e monólogo interior.


Continuing, if academic research also becomes very focused on methods, I decided, along with that, to continue to write creatively. And, I published a book in 2019. If you want I can make a post about the book. I would say that the book is an existentialist creative writing. The book is difficult to categorize, in academia it has been nominated as a philosophy of spirit. But, philosophical methods are not followed, this book is a daydream, because it is very much associated with dreaming, the search for the truth in the middle of chaos, it is the written portrait of an existential crisis. It is part of the so-called flow of consciousness and inner monologue.



As pinturas são elaboradas da mesma forma como gosto de escrever, intuitivamente. Muitas delas são imagens oníricas, criaturas bizarras dos sonhos, seres pouco nítidos, de cores e formas incomuns, lugares estranhos. Este está a tornar-se o meu trabalho, tudo junto, a filosofia, a escrita criativa e a pintura. As bijus estão um pouco secundárias, de produção muito lenta.


The paintings are created in the same way that I like to write, intuitively. Many of them are dreamlike images, bizarre creatures of dreams, indefinite beings, of unusual colors and shapes, strange places. This is becoming my work, all together, philosophy, creative writing and painting. The bijus are a little secondary, with a very slow production.



Mas, como podemos perceber se estamos no rumo certo? Dá-se tanta importância ao pensar, ao planear, ao relato sobre o que somos, temos e fazemos, que aquilo que nos permite ser realmente criativos é desvalorizado. Pode-se dizer que é o desapego das ideias, a observação em silêncio (interior). O simples observar, em algum momento, permite ver pontos coincidentes: uma imagem de um sonho que parece coincidir com uma vivência atual, uma repetição de pequenos detalhes em diferentes momentos da nossa vida que parecem estranhamento relacionados… É como se existissem guias, muito simples, pode ser apenas uma folha ao vento, um pequeno animal, uma palavra… Isto pode ser explorado, uma forma de o fazer é, precisamente, através da pintura ou da escrita. Se gostarem destes temas posso fazer publicações específicas sobre a pintura intuitiva, a escrita criativa ou diários de sonhos ou, ainda, sobre o acesso aos estados criativos de que falei. Não direi o “como”, porque vai contra as leituras que fazem sentido para mim e contra à forma como tenho trabalhado, mas apresentarei algumas indicações de aspetos que as pessoas podem investigar por si próprias, fazendo uso da sua liberdade, da sua criatividade e intuição.


But, how can we know if we are on the right way? So much importance is given to thinking, planning, reporting what we are, have and do, that what allows us to be really creative is devalued. It can be said that it is the detachment of ideas, the observation in (inner) silence. The simple observation, at some point, allows us to see coincident points: an image of a dream that seems to coincide with a current experience, a repetition of small details in different moments of our life that seem related... It is as if there were guides, very simple, it could be just a leaf in the wind, a small animal, a word... This can be explored, a way to do it is, precisely, through painting or writing. If you like these themes, I can make specific posts about intuitive painting, creative writing or dream journals, or even about access to the creative states I spoke. I will not say the “how”, because it goes against the readings that make sense to me and against the way I have been working, but I will present some indications of aspects that people can investigate for themselves, making use of their freedom, their creativity and intuition.



Não é fácil, mas podemos procurar viver assim, no fluxo, no movimento da vida. Podemos tomar decisões assim, observando e deixando a resposta aparecer ou ir aparecendo, sem a pressão de pensar bem quando, na verdade, não sabemos, não temos ideia do que fazer. Podemos ser simples, muito mais presentes e muito mais dinâmicos, isto é, mais vivos, mais livres, porque há respostas que apenas cada pessoa poderá e deverá fornecer a si própria. Deste modo, talvez possamos descobrir a nossa vocação. Penso que se formos honestos connosco próprios seremos, consequentemente, honestos com os outros e nas atividades a que nos propusermos e isso fará a diferença.


It is not easy, but we can try to live like this, in the flow, in the movement of life. We can make decisions, observing and letting the answer appear, without the pressure to think well when, in fact, we don't know, we have no idea what to do. We can be simple, much more present and much more dynamic, that is, more alive, more free, because there are answers that only each person can and should provide to himself. In this way, perhaps we can discover our passion. I think that if we are honest with ourselves, we will therefore be honest with others and in the activities we set out to do and that will make a difference.

11 comentários:

  1. Olá, Raquel!

    Espero que estejas bem de saúde e feliz. Eu estou satisfatória, obrigada!

    O texto foi postado por ti, mas não sei se foste tu que o escreveste ou não. É demasiado longo, mas eu li-o duas vezes, de Norte a Sul, e gostei do que disseste. Se o escreveste, está muito bem escrito e as ideias estão arrumadas, convenientemente, mas tens consciência de que nem todos o lerão na íntegra, ou seja, lerão o post talvez na horizontal, como vulgarmente se diz. Desculpem, estou a fazer juízos de valor, mas é uma tendência natural do ser humano

    Quando somos crianças queremos ser bailarinas, bombeiros, policias, cabeleireiras etc. Mais tarde, surgem outras tendências como estilista ou algo ligado à moda e beleza.

    Finalmente, na fase adulta, há pessoas que ainda não sabem bem o que querem fazer, profissionalmente e andam de emprego em emprego. Eu sonhava ser cantora e o palco sempre me atraiu, mas os meus pais não achavam isso profissão, daí segui aquilo que a minha mãe já era: Professora. Gosto muito do que faço e sinto-me realizada. Evidente que lidar e ensinar adolescentes não é de todo fácil, mas temos de saber acompanhar as novas mentalidades.

    Permite-me que te corrija quanto ao verbo chamar: chamar de vocação, escreveste. Isso diz-se no Português do Brasil, mas no nosso Português o verbo chamar não pede preposição (de), portanto, a frase ficará: chamar vocação. No outro dia, perguntei a uma amiga como se iria chamar o filho dela e ela respondeu-me: ele vai se chamar (o correto seria, ele vai chamar-se) de Santiago. A frase está errada, devido ao "de". Ela irá chamar-se Santiago.

    Grata pelo teu comentário no meu blogue, que gostaria que fosse mais desenvolvido.

    Beijos, dias felizes e com saúde.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Céu. Fui eu que escrevi, talvez tenha escrito demasiado... Fico contente que se sinta bem com a sua profissão, mesmo que não tenha sido o idealizado em criança. Penso que seguir uma vocação não tem que ver com perseguir sonhos de criança. De facto, vamos mudando e, a cada momento, podemos e devemos fazer essa avaliação. O objetivo não tem de ser mudar radicalmente o que não parece estar bem, mas ter sensibilidade e inteligência para agir de acordo com as circunstâncias, porque sabemos que há imensos fatores envolvidos nas vivências das pessoas. Agradeço a leitura e a correção. Da próxima vez que visitar o seu blogue, deixarei um comentário mais desenvolvido. :) Bj

      Eliminar
  2. Bom dia💕 verdade as vezes vem a dúvida o que queremos ser bjs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim e acho que, por vezes, não é uma questão de longo prazo, é mais sobre tentar perceber o que faz sentido "agora". :)

      Eliminar
  3. Todos têm uma tendência
    A seguir certo caminho
    Um por outro e sozinho
    Outro segue a preferência
    De amigos e em decorrência
    Depois o arrependimento,
    O inconformismo e lamento
    E buscam voltar atrás
    Quando a idade já faz
    O devido impedimento.

    Abraço cordial. Laerte.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Este é um talento, comentar com um belo poema feito de improviso. Abraço!

      Eliminar
  4. Li com muito interesse e gosto. Muito ao encontro do que penso e sinto.
    Bom percurso!
    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  5. Dizem que todos temos uma vocação e que há quem nunca a encontre.
    Pessoas há que gostam do que fazem e não são motivadas. Sei de outras que não gostam do que fazem e têm motivação, são esforçada e de sucesso.
    Seguirmos a nossa vocação seria o ideal só que há profissões que não dão dinheiro. Hoje acho que querem o simples, ter um emprego para pagar as contas e tempo para viver com os seus. Não querem trabalho, dificuldades, objectivos.
    As pessoas querem segurança e terem a mesma profissão toda a vida.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida! Também vejo a vocação como aptidões naturais e pessoais que nos permitem enfrentar os obstáculos e não só como vocação/profissão. Beijinhos

      Eliminar